Observações detalhadas in loco no município de Anajatuba proporcionaram um
breve direcionamento para uma revisão das concepções geológicas recentemente
divulgadas (MARANHÃO, 2003), em que se acrescentam conhecimentos relacionados a
rochas expostas do Cráton São Luís, que evidentemente pela pontualização de
seus afloramentos não são passíveis de mapeamento na escala daquele Diagnóstico
Ambiental Regional, que tem base cartográfica de 1:100.000. Ao intervalo
Cretáceo – Quaternário (Pleistoceno), se destacam depósitos arenosos e
areno-argilosos (não necessariamente com materiais concrecionados)
correlacionáveis à Formação Barreiras, que é de idade Mio-Pliocênica (com
gênese enquadrada entre 12 e 4 M.A., portanto período Terciário).
E
aqui se instalou uma dúvida, será Anajatuba ainda pertencente à Bacia do Maranhão
– Piauí (ou Parnaíba), que advém do Paleozóico Médio, entre o Neossiluriano e o
Eodevoniano (entre 410 – 400 M.A.)? Ou estaria enquadrada em um prolongamento
interiorizado da Bacia Costeira de São Luís, que se originou no Cretáceo, com a
abertura do Atlântico pela deriva continental – tectônica de placas?
Embora sejam necessários estudos direcionados de geotectônica
subsidente, petrografia e litoestratigrafia, é importante destacar que é bem
provável que seja pertencente esse espaço geológico à Bacia Costeira de São
Luís, haja vista a existência dos afloramentos rochosos da Formação Itapecuru
(Cretáceo) e do capeamento sedimentar de rochas do Barreiras (Terciário), cobertas por depósitos inconsolidados de idade
pleisto-holocênica, o que pode conduzir a uma correlação analítica destes com a
Formação Açuí, a qual é de idade quaternária. Isso representa deposicionalmente
a coluna litoestratigráfica básica daquela morfoestrutura costeira cretácea (albiana).
A individualização das bacias do Maranhão – Piauí e Costeira de São Luís ocorreu
a partir da Reativação Wealdeneana, com o conseqüente soerguimento
epirogenético do Alto Estrutural Férrer – Urbano Santos, e falhamentos
sucessivos correlacionáveis (PETRI; FÚLFARO, 1983, p. 250). Os morros
testemunhos de Anajatuba, que se dispõem em um lineamento tipicamente
estrutural (falhas normais), são evidências da presença da divisão das duas
bacias naquele município, prosseguindo em direção E – SE, até Miranda do Norte.
A partir dos desnivelamentos desse arco estrutural se inserem as terras baixas
alagáveis, voltadas para o Golfão. Reitera-se que essa compreensão é preliminar
e necessita de pesquisas para que sejam estabelecidas revisões dos modelos
conceituais geofísicos e geotectônicos dos ambientes geoestruturais do Norte
Maranhense.
O Norte Maranhense (onde se situam o Golfão e a Baixada Maranhense e,
dentro desta, o município de Anajatuba) possui características genéticas muito
marcantes, com rochas aflorantes de idades heterogêneas (conforme já
mencionado), em que pesa uma geologia histórica bastante peculiar, com
episódios geotectônicos e de configuração de ambientes e materiais
deposicionais distintos, além de flutuações eustáticas proeminentes decorridas
em especial nos últimos 120.000 A.P..
O embasamento geoestrutural da área em questão é formado por
rochas de idade Arqueana (mais de 2,0 B.A.), destacando-se a presença de rochas
graníticas, grabos, dioritos (de origem plutônica) e anfibolitos (de natureza
metamórfica), com cores fortes, escuros, do cinza ao esverdeado, com manchas
róseas, pretas e brancas (MARANHÃO, 1998, p. 14). Tal embasamento é
reconhecido, também, pela denominação Cráton de São Luís. No município de
Anajatuba, granitos cinza-escuros afloram nas “ilhas”[1]
Os depósitos fanerozóicos de idade mesozóica são bem representados pela
Formação Itapecuru, de idade Cretácea, com afloramento de arenitos finos,
arenitos argilosos, siltitos e folhelhos. As idades dos depósitos da Formação
Itapecuru variam de 100 a 95 M.A. (época: Albiano). Embora seja uma formação
geológica fossilífera, superficialmente em Anajatuba não é observada a presença
de compostos rochosos biogênicos, como fósseis das megafaunas ictiana e reptiliana
mesozóicas, as quais são bem preservadas em outras áreas do estado em que há
afloramento desse pacote sedimentar, haja vista São Luís, São José de Ribamar,
Alcântara e Itapecuru-Mirim (este que, por sinal, faz limite com Anajatuba a
Leste).
Assim, indica-se que
é necessário o
desenvolvimento de pesquisas paleontológicas, em especial nas
bases dos morros testemunhos de Anajatuba, como o de Rosarinho, bem como nos
povoados de Juçatuba, Quebra, Alegre e nas “ilhas” de vegetação densa e mista,
próximas a Graxixá, onde se encontram patamares de cimeira com o afloramento,
mesmo em vertentes (Figura 05), deste conjunto de fácies litológicas bastante
laterizadas.
Fonte: Luiz Jorge Bezerra da Silva Dias (2006)
[1] Sobre essa concepção (“ilhas”),
há que se evidenciar que ela é uma denominação toponímica local. P.ex.: Ilha de
Juçatuba, Ilha do Graxixá, Ilha do Alegre, Ilha do Melão. É uma denominação
interessante, embora não seja
tecnicamente precisa, pois enquadra ambientes físico-ecológicos que não
estão necessariamente isolados por águas
das “terras firmes” adjacentes. O fato é que o termo “ilha” passa a ter
uma conotação paisagística crucial se for
associada à presença de formações vegetais sui generis, em se tratando
do espaço total anajatubense, configurando
verdadeiro enclaves florestais, inclusive abrigando espécies dos
domínios das caatingas, cerrados e florestas
tropicais amazônicas. Estão dispostas entre os tesos e os campos
inundáveis do município.