sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Geologia do Município de Anajatuba remonta ao período CRETÁCICO.

Observações detalhadas in loco no município de Anajatuba proporcionaram um breve direcionamento para uma revisão das concepções geológicas recentemente divulgadas (MARANHÃO, 2003), em que se acrescentam conhecimentos relacionados a rochas expostas do Cráton São Luís, que evidentemente pela pontualização de seus afloramentos não são passíveis de mapeamento na escala daquele Diagnóstico Ambiental Regional, que tem base cartográfica de 1:100.000. Ao intervalo Cretáceo – Quaternário (Pleistoceno), se destacam depósitos arenosos e areno-argilosos (não necessariamente com materiais concrecionados) correlacionáveis à Formação Barreiras, que é de idade Mio-Pliocênica (com gênese enquadrada entre 12 e 4 M.A., portanto período Terciário).
E aqui se instalou uma dúvida, será Anajatuba ainda pertencente à Bacia do Maranhão – Piauí (ou Parnaíba), que advém do Paleozóico Médio, entre o Neossiluriano e o Eodevoniano (entre 410 – 400 M.A.)? Ou estaria enquadrada em um prolongamento interiorizado da Bacia Costeira de São Luís, que se originou no Cretáceo, com a abertura do Atlântico pela deriva continental – tectônica de placas? 
Embora sejam necessários estudos direcionados de geotectônica subsidente, petrografia e litoestratigrafia, é importante destacar que é bem provável que seja pertencente esse espaço geológico à Bacia Costeira de São Luís, haja vista a existência dos afloramentos rochosos da Formação Itapecuru (Cretáceo) e do capeamento sedimentar de rochas do Barreiras (Terciário), cobertas por depósitos inconsolidados de idade pleisto-holocênica, o que pode conduzir a uma correlação analítica destes com a Formação Açuí, a qual é de idade quaternária. Isso representa deposicionalmente a coluna litoestratigráfica básica daquela morfoestrutura  costeira cretácea (albiana).
A individualização das bacias do Maranhão – Piauí e Costeira de São Luís ocorreu a partir da Reativação Wealdeneana, com o conseqüente soerguimento epirogenético do Alto Estrutural Férrer – Urbano Santos, e falhamentos sucessivos correlacionáveis (PETRI; FÚLFARO, 1983, p. 250). Os morros testemunhos de Anajatuba, que se dispõem em um lineamento tipicamente estrutural (falhas normais), são evidências da presença da divisão das duas bacias naquele município, prosseguindo em direção E – SE, até Miranda do Norte. A partir dos desnivelamentos desse arco estrutural se inserem as terras baixas alagáveis, voltadas para o Golfão. Reitera-se que essa compreensão é preliminar e necessita de pesquisas para que sejam estabelecidas revisões dos modelos conceituais geofísicos e geotectônicos dos ambientes geoestruturais do Norte Maranhense.
O Norte Maranhense (onde se situam o Golfão e a Baixada Maranhense e, dentro desta, o município de Anajatuba) possui características genéticas muito marcantes, com rochas aflorantes de idades heterogêneas (conforme já mencionado), em que pesa uma geologia histórica bastante peculiar, com episódios geotectônicos e de configuração de ambientes e materiais deposicionais distintos, além de flutuações eustáticas proeminentes decorridas em especial nos últimos 120.000 A.P.. 
O embasamento geoestrutural da área em questão é formado por rochas de idade Arqueana (mais de 2,0 B.A.), destacando-se a presença de rochas graníticas, grabos, dioritos (de origem plutônica) e anfibolitos (de natureza metamórfica), com cores fortes, escuros, do cinza ao esverdeado, com manchas róseas, pretas e brancas (MARANHÃO, 1998, p. 14). Tal embasamento é reconhecido, também, pela denominação Cráton de São Luís. No município de Anajatuba, granitos cinza-escuros afloram nas “ilhas”[1] 
Os depósitos fanerozóicos de idade mesozóica são bem representados pela Formação Itapecuru, de idade Cretácea, com afloramento de arenitos finos, arenitos argilosos, siltitos e folhelhos. As idades dos depósitos da Formação Itapecuru variam de 100 a 95 M.A. (época: Albiano). Embora seja uma formação geológica fossilífera, superficialmente em Anajatuba não é observada a presença de compostos rochosos biogênicos, como fósseis das megafaunas ictiana e reptiliana mesozóicas, as quais são bem preservadas em outras áreas do estado em que há afloramento desse pacote sedimentar, haja vista São Luís, São José de Ribamar, Alcântara e Itapecuru-Mirim (este que, por sinal, faz limite com Anajatuba a Leste).
Assim,  indica-se  que  é  necessário  o  desenvolvimento  de  pesquisas paleontológicas, em especial nas bases dos morros testemunhos de Anajatuba, como o de Rosarinho, bem como nos povoados de Juçatuba, Quebra, Alegre e nas “ilhas” de vegetação densa e mista, próximas a Graxixá, onde se encontram patamares de cimeira com o afloramento, mesmo em vertentes (Figura 05), deste conjunto de fácies litológicas bastante laterizadas.

Fonte: Luiz Jorge Bezerra da Silva Dias (2006)

[1] Sobre essa concepção (“ilhas”), há que se evidenciar que ela é uma denominação toponímica local. P.ex.: Ilha de Juçatuba, Ilha do Graxixá, Ilha do Alegre, Ilha do Melão. É uma denominação interessante, embora não seja  tecnicamente precisa, pois enquadra ambientes físico-ecológicos que não estão necessariamente isolados por águas  das “terras firmes” adjacentes. O fato é que o termo “ilha” passa a ter uma conotação paisagística crucial se for  associada à presença de formações vegetais sui generis, em se tratando do espaço total anajatubense, configurando  verdadeiro enclaves florestais, inclusive abrigando espécies dos domínios das caatingas, cerrados e florestas  tropicais amazônicas. Estão dispostas entre os tesos e os campos inundáveis do município.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Entenda por que a população de Anajatuba é 76% negra.



     76% da população anajatubense é negra. O que a história tem para nos explicar sobre esta realidade?

A resposta para esta pergunta requer uma análise aprofundada sobre a vinda dos negros para nossa região, o período histórico e os povos que para cá vieram. Aqui apresento um resumo de uma pesquisa em andamento.
A entrada dos povos africanos para o norte do Maranhão, deveu-se em grande quantidade com  a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão na segunda metade do século XVIII.
Neste período da história, a cultura algodoeira no Maranhão integra ao sistema de grande lavoura e a consistência de grandes planteis de escravos, principalmente por ocasião da colheita. Segundo Mário Meireles a “área de Ribeira do Itapecurú, era a que fornecia grande parte da produção do algodão do Maranhão”. E falando do mesmo assunto, GAIOSO afirma que em 1853 a área de ribeira compreendia as seguintes freguesias: Nossa senhora do Rosário (atual município de Rosário) e Itapecuru-Mirim ( toda área territorial que corresponde os municípios de Santa Rita, Anajatuba e Itapecuru-Mirim), (Arquivo 1.1.5, p. 263-5).
Dentro do contexto histórico de Ribeira de Itapecuru como sendo o centro de produção de algodão na província do Maranhão, a região se destaca entre 1812 a 1821 como a maior produtora de algodão da América, colocando o Maranhão em  destaque no cenário da economia brasileira
Com  o  crescimento  da  agro-exportação,  aumenta  significativamente o  número  de escravos,  chegando  a  53%  da  população  maranhense  em  1822. Desse  contexto surgiu a célebre frase: “O algodão apesar de branco tornará preto o Maranhão”. O número  de escravos  da Ribeira  do  Itapecuru, grande  produtora  de algodão, era de 83% de sua população
De acordo com os estudos de Mathias Assunção (2001), os negros que povoaram a área de Ribeira do Itapecurú tinham procedência da região de angola/congo, dos rios de guiné, da baia do benin (mina, nagô e calabar), Mocambiques e Camunda. Outros africanos eram registrados como angola, mandinga, mina, cacheu, bijagó, Benguela, congo e cabinda. Essa procedência dos escravos angola e a significativa presença dos mandingas e mina são confirmadas pelo livro de óbitos da freguesia do itapecuru-mirim, uma das principais áreas de plantation ( ASSUNÇÃO, 2001, nº 20).
Esses dados fornecidos pelo autor influenciam para uma pesquisa em andamento sobre as origens dos quilombos formados em nosso município no período da regência brasileira, mais especificamente no período em que eclode a Balaiada, na região da vila da Manga (hoje Nina Rodrigues) e Itapecuru-Mirim. Acontecimento este que envolve muitos negros no conflito e muitos se refugiavam em outras regiões, no caso Anajatuba.
Infelizmente, o tráfico de escravos para o Maranhão, ainda não foi objeto de maior atenção entre os historiadores e pesquisadores. O que dificulta afirmarmos com precisão as nações africanas que povoaram os Vales e as terras próximas ao Rio Itapecuru.
Mesmo constituindo consenso entre estudiosos, temos que reconhecer que, os grupos étnicos eram formados simplesmente de um porto de embarque no litoral africano ou nas feiras de vendas de escravos aqui no Brasil. Segundo Maria Inês Cortes de Oliveira, os Portugueses tiveram um certo controle com as nações Angolanas, Cabindas e Banguelas e outros grupos étnicos ao embarcarem nos portos Africanos. 
Os dados descritos sobre as nações africanas que nestas regiões chegaram, justifica a existência de Quilombos nas regiões de: Retiro (São João da Mata), Monge Belo, Pedrinhas, Queluz, Cupaúba, Ponta Bonita, Cumbi, Ladeira, Assutinga, Côco, Centro do Isidório, Bacabal, São Pedro, Flexeira, São Roque, Quebra, Bom Jardim, Bairro São Benedito, Ilhas do Teso e São José/Zé Bernardo.
Estas comunidades são todas remanescentes de Quilombos e que estão no município de Anajatuba.


Professor Valdir